terça-feira, 27 de março de 2012

Com a webcam, acabou a distância entre Solidão e São Paulo




Na casa dos Brás, no povoado de Pelo Sinal, zona rural do município de Solidão, o computador ganhou lugar nobre na sala de estar da família. A televisão perdeu a graça e parece escanteada no ambiente. Ficou meio acanhada diante da interatividade vista na tela do monitor LCD 20 polegadas e facilitada pela conexão com a internet.

Pudera: o computador aumentou o tempo de convivência familiar. São Paulo, separado 2.543 quilômetros de Solidão, tornou-se mais perto e os dez filhos de seu Antônio Brás, que migraram para longe em busca de oportunidades de emprego, voltam para a casa onde nasceram quase todos os dias. Nem que seja virtualmente, juntam-se por algumas horas a seu Antônio, ao único filho que ficou em terras pernambucanas, Robson, e à mulher, Leônia – todos trabalhadores rurais.

"Com essa antena de internet que Robson colocou em casa, acabou minha solidão de pai", diz seu Antônio. A antena está no telhado da casa deles há pouco mais de quatro meses. Desde então, os Brás de Solidão encontram-se à noite, usando uma câmera e o MSN, e conversam sobre a rotina dos núcleos familiares. "Falamos coisas simples, mais ou menos como os meninos estão no colégio, sobre quem está doente…É muito bom. Só não dá para abraçar eles", lamenta dona Leônia, sempre sorridente.

Seu Antônio conta que nunca imaginou que a tecnologia trouxesse oportunidades como essas e melhorassem tanto a relação com os filhos. "Os de São Paulo incentivaram Robson e aí compramos essa antena. Para a gente, foi bom demais", afirmou, repetindo esta última frase vez por outra. Feliz da vida, seu Antônio Brás lembra a evolução dos meios de comunicação e como se davam os raros contatos que mantinha com a família há décadas: "Quando eu viajava para São Paulo passava dias esperando a resposta da carta. Em 1993, consegui depois de muita luta um orelhão para o povoado de Pelo Sinal. Veio o celular e hoje a gente fala e vê nosso povo pelo computador. É muita mudança".



A internet da família de Pelo Sinal costuma se conectar à noite, depois das 20h, quando os filhos, noras, genros e netos já têm chegado em casa do trabalho e escola. A maioria dos internautas que acessa redes sociais ou faz uso de mensagens instantâneas tem preferência pelo horário noturno. Dona Leônia, impressionada com o computador e com os bate-papos virtuais com os queridos, tem por hábito quebrar a regra. Sempre pede a Robson que ligue a internet e arrisque um encontro no meio da tarde, quando o sol de Solidão já baixou.

Outro dia, encontrou Disiane, uma das noras. Em dois minutos, começou a ouvir e rir das peripécias da neta Júlia Vitória. Disiane e vários integrantes do clã dos Brás que estão em São Paulo têm perfis em sites de relacionamentos, Orkut e Facebook. O Facebook é o preferido. Estimulado pelos que estão no Sudeste, Robson também aderiu ao site e começa a montar a sua própria linha do tempo.

A casa dos Brás, pintada de verde água, cerca de galinhas e com um orelhão abandonado bem em frente ao alpendre da casa deles ostenta o Nordeste contemporâneo. Ele é feito de residências urbanas e rurais cada vez mais conectadas e de lan houses mais vazias.

Em Solidão, que tem 5.737 habitantes e fica a 411 quilômetros do Recife, o último proprietário da lan house localizada na praça principal da sede do município, Eduardo Pereira, da Net Mani@, vendeu há pouco o ponto comercial. "Entrou em decadência. O povo começou a colocar computador em casa ou então ficou usando computadores do telecentro. Aí, eu estava no prejuízo". 

Eduardo, de 22 anos, calcula ter perdido 50% da clientela. Ele repassou o ponto da lan house e montou um outro negócio, de assistência técnica de computadores residenciais no município vizinho de Afogados da Ingazeira. Para este negócio, o mercado tende a crescer. O estado de Pernambuco ainda está muito aquém no quesito inclusão digital - só 19,1% das residências têm computador e internet.


Fonte: Diário de Pernambuco

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