sexta-feira, 11 de abril de 2014

Os trovões de antigamente



Estou no antigo quarto de meus pais; as duas janelas dão para o terreno onde fica o imenso pé de fruta-pão, à cuja sombra cresci. O desenho de suas folhas recorta-se contra o céu; essa imagem das folhas do fruta-pão recortada contra o céu é das mais antigas de minha infância, do tempo em que eu ainda dormia em uma pequena cama cercada de palhinha junto à janela da esquerda.

A tarde está quente. Deito-me um pouco para ler, mas deixo o livro, fico a olhar pela janela. Lá fora, uma galinha cacareja, como antigamente. E essa trovoada de verão é tão Cachoeiro, é tão minha casa em Cachoeiro! Não, não é verdade que em toda parte do mundo os trovões seja iguais. Aqui os morros lhe dão um eco especial, que prolonga seu rumor. A altura e a posição das nuvens, do vento e dos morros que ladeiam as curvas do rio criam essa ressonância em que me reconheço menino, ajustado e fascinado pela visão dos relâmpagos, esperando a chegada dos trovões e depois a chuva batendo grossa lá fora, na terra quente, invadindo a casa com o seu cheiro. Diziam que São Pedro estava arrastando móveis, lavando a casa; e eu via o padroeiro de nossa terra, com suas barbas empurrando móveis imensos, mas iguais aos de nossa casa, no assoalho do céu – certamente também feito assim, de tábuas largas. Parece que eu não acreditava na história, sabia que era apenas uma maneira de dizer, uma brincadeira, mas a imagem de São Pedro de camisolão empurrando um grande armário preto me ficou na memória.

Nossa casa era bem bonita, com varanda, caramanchão e o jardim grande ladeando a rua. Lembro-me confusamente de alguns canteiros, algumas flores e folhagens desse jardim que não existe mais; especialmente de uma grande touceira de espadas de São Jorge que a gente chamava apenas de “talas”; e, lá no fundo, o precioso pé de saboneteira que nos fornecia bolas pretas para o jogo de gude. Era uma grande riqueza, uma árvore tão sagrada como o fruta-pão e o cajueiro do alto do morro, árvores de nossa família, mas conhecidas por muita gente na cidade; nós também não conhecíamos os pés de carambola dos Martins ou as mangueiras do Dr. Mesquita?

Sim, nossa casa era muito bonita, verde, com uma tamareira junto à varanda, mas eu invejava os que moravam do outro lado da rua, onde as casas dão fundos para o rio. Como a casa dos Martins, como a casa dos Leão, que depois foi dos Medeiros, depois de nossa tia, casa com varanda fresquinha dando para o rio.

Quando começavam as chuvas a gente ia toda manhã lá no quintal deles ver até onde chegara a enchente. As águas barrentas subiam primeiro até a altura da cerca dos fundos, depois às bananeiras, vinham subindo o quintal, entravam pelo porão. Mais de uma vez, no meio da noite, o volume do rio cresceu tanto que a família defronte teve medo.

Então vinham todos dormir em nossa casa. Isso para nós era uma festa, aquela faina de arrumar camas nas salas, aquela intimidade improvisada e alegre. Parecia que as pessoas ficavam todas contentes, riam muito; como se fazia café e se tomava café tarde da noite! E às vezes o rio atravessava a rua, entrava pelo nosso porão, e me lembro que nós, os meninos, orcianos para ele subir mais e mais. Sim, éramos a favor enchente, ficávamos tristes de manhãzinha quando, mal saltando da cama, íamos correndo para ver que o rio baixara um palmo – aquilo era uma traição, uma fraqueza do Itapemirim. Às Vezes chegava alguém a cavalo, dizia que lá, para cima do Castelo, tinha caído chuva muita, anunciava águas nas cabeceiras, então dormíamos sonhando que a enchente ia outra vez crescer, queríamos sempre que aquela fosse a maior de todas as enchentes.

E naquelas tarde as trovoadas tinham esse mesmo ronco prolongado entre morros, diante das duas janelas do quarto de meus pais; eles trovejavam sobre nosso telhado e nosso pé de fruta-pão, os grandes, grossos trovões familiares de antigamente, os bons trovões do velho São Pedro.

Rubem Braga

























terça-feira, 8 de abril de 2014

Mudança climática eleva riscos de conflitos e fome, diz IPCC

O aumento das emissões de CO2 elevará durante este século os riscos de conflitos, fome, enchentes e migrações, informa o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado nesta segunda-feira (31).

“O aumento de temperaturas aumenta a probabilidade de impactos severos, generalizados e irreversíveis”, emtodo o mundo, alerta o quinto informe do IPCC.

Se não se conseguir estancar as emissões dos gases causadores do efeito estufa, o custo pode chegar a bilhões de dólares em danos a ecossistemas e a propriedades, além da necessidade de se criar sistemas de proteção dessas mudanças.

Os efeitos da mudança climática já começam a ser notados e vão piorar com cada grau centígrado de aumento da temperatura.

A Amazônia em perigo A fome poderá ser especialmente severa nos países tropicais e subtropicais. A Amazônia é um dos ecossistemas que mais poderão ser prejudicados, juntos com os polos, os pequenos Estados insulares no Pacífico e os litorais marítimos de todos os continentes.

Bastante extenso, o informe detalha os efeitos por região. Nas Américas do Sul e Central, os desafios são a escassez de água em áreas semiáridas, as inundações em zonas urbanas superpovoadas, a queda da produção alimentar e de sua qualidade e a propagação de doenças transmitidas por mosquitos.

As cidades latino-americanas devem se preparar para modificar seus planos de urbanismo e de tratamento de água. A produção agrícola deverá se adaptar aos períodos de seca, ou de grandes chuvas, com grãos mais resistentes.

As zonas de mata virgem deverão manter afastada a pressão dos assentamentos humanos.

O documento é resultado de intensas deliberações entre centenas de cientistas desde que a comunidade internacional aprovou a criação do IPCC em 1988.

O informe “é um manual de instruções para se enfrentar a mudança climática, mas também representa um marco para entendê-la, para entender suas implicações”, explicou o co-presidente do IPCC, Chris Field, da Carnegie Institution.

A edição anterior, de 2007, valeu ao IPCC o Prêmio Nobel da Paz, mas seu sucesso e visibilidade não conseguiram mobilizar as consciências o suficiente. A reunião internacional de Copenhague, em 2009, que se dedicaria a obter um pacto contra a mudança climática, foi um estrondoso fracasso.

Esse novo documento, publicado em Yokohama, em Tóquio, após cinco dias de reuniões, detalha de forma mais extensa o alcance do problema, que se acelerou a partir do século XX.

As temperaturas vão subir entre 0,3ºC e 4,8ºC neste século, o que se soma ao 0,7ºC calculado desde o início da Revolução Industrial. Além disso, o nível dos mares aumentará entre 26 e 82 centímetros até 2100.

A alta das temperaturas reduzirá o crescimento econômico mundial entre 0,2% e 2% ao ano – calculam os cientistas. Nesse sentido, o IPCC reivindica um pacto mundial até o final de 2015 para limitar esse aumento a até 2ºC no século atual.

Riscos para a segurança – Os impactos aumentam com cada grau centígrado e podem ser desastrosos acima de 4ºC, adverte o texto.

A mudança climática pode provocar mais conflitos regionais, devido às migrações das populações afetadas pelas enchentes e à competição pelo monopólio de água e comida.

“A mudança climática tende a atuar como um multiplicador de ameaças”, disse Field.

“Há muitas coisas que fragilizam as pessoas, e quando você combina um choque climático com esses fatores, os resultados podem ser ruins”, alertou.

Na Europa e na Ásia, é provável que as temporadas e o volume de chuva sofram mudanças dramáticas. Isso terá um impacto nas colheitas de trigo, arroz, ou milho, por exemplo. Espécies de plantas, ou de animais, poderão desaparecer.

Os países pobres serão, contudo, os que vão sofrer as mais graves consequências desse novo cenário.

O relatório garante que o aquecimento global é irreversível, mas que pode ser reduzido drasticamente, se o ser humano controlar as emissões de CO2. Algumas medidas que podem ser aplicadas de imediato são “baratas e fáceis”, como reduzir o desperdício de água, ampliar as áreas verdes nas cidades e proibir assentamentos humanos em zonas de alto risco. 

(Fonte: UOL)

O Biodiesel e a Inclusão Social

No dia 14 de Abril de 2004, os doze Deputados, membros do Conselho de Altos Estudos, indicados pelas lideranças dos seus partidos, deram entrada no Projeto de Lei que recebeu o número PL-3368. Tal projeto, “dispõe sobre a obrigatoriedade da adição de dois a cinco por cento do biodiesel ao óleo diesel mineral, sobre o cultivo de oleaginosas a serem utilizadas na fabricação de biodiesel e sobre sua produção e comercialização”. Concebido sob a visão da inclusão social, garantirá os meios para criação de trabalho e distribuição de renda nas regiões mais pobres do País e contribuirá para a consolidação de uma política de Reforma Agrária consistente.

Nesse contexto, o programa Biodiesel surge como importante alternativa de criação de trabalho no interior dos Estados. Essa foi a conclusão a que chegou o Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica da Câmara dos Deputados, quando em Março concluiu o estudo: “Biodiesel e a Inclusão Social”. Esse Conselho, do qual faço parte como relator, que fora reinstalado em Maio de 2003, escolheu como primeira tarefa o tema do Biodiesel, pela expectativa de seu alcance social. Por se tratar de assunto relevante, e urgente quanto ao uso imediato do Biodiesel, o Conselho, em votação, decidiu pela elaboração de um Projeto de Lei que regulamentasse a matéria.

A sistemática dos trabalhos do Conselho permitiu que fossem ouvidos engenheiros, professores e, sobretudo, pesquisadores das instituições que há anos vêm investigando a aplicação dos óleos vegetais brasileiros como combustível de motores diesel. A exposição, na Câmara dos Deputados, de trabalhos da Tecbios, Nutec, MCT, Petrobras, USP, Embrapa, Maquigeral, Tecpar, Ecomat, UnB e UFRJ, em Novembro de 2003, e a videoconferência com as Assembléias Legislativas, onde foram apresentadas teses de vários estudiosos, enriqueceram o Relatório Final.

O Brasil foi pioneiro em pesquisas sobre biodiesel com os trabalhos do professor Expedito Parente, da Universidade Federal do Ceará, autor da patente PI-8007957, primeira patente, em termos mundiais, do biodiesel e do querosene vegetal de aviação, mas já de domínio público. Este carburante, apesar da grande solução que pode representar como aditivo no combustível, ainda não passa, no Brasil, de uma auspiciosa promessa. Em países como Alemanha, França e EUA, o biodiesel já é uma realidade.

Também conhecido como diesel vegetal, o Biodiesel é um combustível obtido de fontes renováveis - tais como óleos vegetais e gorduras animais - por intermédio de processos químicos como o da transesterificação ou do craqueamento térmico. Quimicamente é definido como um éster monoalquílico de ácidos graxos de cadeia longa com características físico-químicas semelhantes ao do diesel mineral. Por ser perfeitamente miscível, o Biodiesel pode ser utilizado puro ou misturado em quaisquer proporções, em motores do ciclo diesel sem a necessidade de significativas ou onerosas adaptações.




Por ser biodegradável, não-tóxico e praticamente livre de enxofre e aditivos aromáticos, é considerado um combustível ecológico. Suas emissões são isentas de compostos sulfurados, substâncias tóxicas e cancerígenas, reduzindo em 90% as emissões de fumaça, eliminando praticamente as emissões de óxido de enxofre. Comparado ao óleo diesel derivado de petróleo, o biodiesel puro reduz em até 78% as emissões de gás carbônico; também, possui um índice de cetano maior que o diesel mineral, garantindo uma melhor combustão e, conseqüentemente, a diminuição de poluentes.

Como se trata de uma energia limpa, não-poluente, que pode ser usada pura ou misturada com o diesel mineral em qualquer proporção, o seu uso num motor diesel convencional resulta, quando comparado com a queima do diesel mineral, numa redução substancial de monóxido de carbono e de hidrocarbonetos não queimados. Por possuir um poder lubrificante maior que o óleo diesel do petróleo, a vida útil do motor aumenta consideravelmente.

Mundialmente foi adotada uma nomenclatura bastante apropriada para identificar a concentração do Biodiesel na mistura. É o Biodiesel BXX, onde XX é a percentagem em volume de adição de Biodiesel à mistura. Por exemplo: B2, B5, B20 e B100, são combustíveis com uma concentração de 2, 5, 20 e 100% de Biodiesel, respectivamente.

Levando-se em conta o potencial agrícola brasileiro e os condicionantes ambientais mundiais, torna-se oportuno discutir a produção de fontes alternativas de energia, ecologicamente sustentáveis. É bom lembrar que esse óleo vegetal, além de proporcionar geração de emprego e renda para as populações pobres do meio rural, é uma fonte de energia alternativa que pode ser obtida de qualquer oleaginosa, como por exemplo, mamona, dendê, babaçu, soja, amendoim, girassol e outras, por meio de processos produtivos de domínio das nossas universidades e de fácil transferência para a população ou setor produtivo. Ao dispor sobre a obrigatoriedade da mistura na proporção de 2 a 5%, a Lei cria de imediato um mercado consumidor estimado em dois bilhões de litros/ano de biodiesel, uma previsão de área para produção de oleaginosas de 2,5 milhões de hectares e uma expectativa de inclusão direta no mercado de trabalho de 500.000 famílias com renda, não inferior a R$ 500,00/mês.

A Lei dispõe, ainda, total isenção de tributos federais na cadeia produtiva a partir de oleaginosas cultivadas por unidades familiares, agrupadas em cooperativas ou associações de pequenos agricultores, que venham produzir até 50.000 litros por dia de biodiesel. Essa renúncia fiscal é tão pequena que está dentro da margem de incerteza da previsão de receitas e despesas do orçamento da União. Se a Câmara dos Deputados votar em regime de urgência o PL-3368, estará dando um passo decisivo para diminuir o desemprego e aumentar a renda do nosso homem do campo, dando-lhe inclusive sustentação à sua agricultura familiar e ao seu pequeno agronegócio.

A Lei também aponta para uma reserva de mercado para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste para que 50% do óleo a ser misturado provenha dessas regiões, se garantindo, também, financiamento aos pequenos produtores pelos bancos de desenvolvimento.

O projeto prevê também a criação, pelo Banco do Brasil, pelo Banco do Nordeste do Brasil e pelo Banco da Amazônia, de uma linha de crédito específica para o financiamento do plantio e/ou cultivo de oleaginosas em unidades familiares, e de uma linha de crédito, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, para instalação de cooperativas de pequenos agricultores.

Hoje, o Brasil importa seis bilhões de litros de diesel mineral com evasão de divisas da ordem de 1,5 bilhões de dólares. A Lei garantirá, de imediato, que a Petrobrás substitua 1/3 de sua importação; no entanto, se ela se preparar para substituir o que importa, o número de famílias a serem beneficiadas será triplicado. Aos que falam que o biodiesel pode ser mais caro, pergunto: quanto custa ao País a poluição de nossas cidades agredindo o meio ambiente, a qualidade de vida e a saúde da população? O que é cara é a nossa pobreza, é a esmola que se pratica, é a poluição de nossas cidades, é a violência oriunda da falta de trabalho. Hoje, o que está em jogo é a dignidade da pessoa, o direito ao trabalho e o direito à vida.

Fonte:
Ariosto Holanda Deputado Federal (PSDB-CE), Professor Universitário e Engenheiro Civil

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O que são Serviços Ambientais





A definição de serviços ambientais ou serviços ecossistêmicos é simples: trata-se dos benefícios que as pessoas obtêm da natureza direta ou indiretamente, através dos ecossistemas, a fim de sustentar a vida no planeta.

Os ecossistemas proveem a purificação da água e do ar, amenizam os fenômenos climáticos violentos (como ciclones, tornados e tufões) e protegem contra desastres naturais (por exemplo, tsunamis e deslizamentos de terra); decompõem o lixo, mantêm os solos férteis e ajudam no controle de erosões. Animais, como as abelhas, vespas e formigas, polinizam as plantas que, enquanto crescem, sequestram carbono da atmosfera. Outros, como a cotia e o mico-leão-dourado, ajudam as florestas e matas dispersando sementes. As fezes animais fertilizam o solo. Por sua vez, as florestas fornecem madeira, alimentos, substâncias medicinais, fibras e produzem recursos genéticos (qualquer material de origem vegetal, animal ou microbiana que contenha unidades funcionais de genes e apresentem valor econômico real ou potencial). Os sistemas fluviais disponibilizam água doce, o mais essencialdos recursos, movem hidrelétricas para produzir energia, quando navegáveis substituem estradas e são usados como áreas de lazer. As zonas úmidas costeiras filtram os resíduos, mitigam as cheias e servem de viveiro para a fauna marinha, o que permite a pesca comercial. Todos estes são exemplos de serviços ambientais.

A Avaliação Ecossistêmica do Milênio da ONU, publicada em 2005, criou uma classificação para os serviços ambientais, dividindo-os da seguinte forma:

(1) Serviços de Provisão: os produtos obtidos dos ecossistemas. Exemplos: alimentos, água doce, fibras, produtos químicos, madeira.

(2) Serviços de Regulação: benefícios obtidos a partir de processos naturais que regulam ascondições ambientais. Exemplos: absorção de CO² pela fotossíntese das florestas; controle do clima, polinização de plantas, controle de doenças e pragas.

(3) Serviços Culturais: São os benefícios intangíveis obtidos, de natureza recreativa, educacional, religiosa ou estético-paisagística.

(4) Serviços de Suporte: Contribuem para a produção de outros serviços ecossistêmicos: Ciclagem de nutrientes, formação do solo, dispersão de sementes.

A preservação dos ecossistemas e, consequentemente, dos serviços ambientais por eles prestados é fundamental à existência humana. No entanto, economicamente, a preservação por muito tempo não foi vista como atraente. Em curto prazo, outras atividades, como a pecuária e a produção de grãos, são mais lucrativas, porém degradam o ambiente.

As atividades que destroem recursos ambientais criam problemas até para si mesmas. A agricultura e a pecuária geram florestas e matas ciliares, o que, por exemplo, interfere com o fornecimento de água e indiretamente com o clima. Recuperar áreas degradadas é caro, tal como o caso de despoluir um rio ou recuperar uma floresta queimada.

As técnicas de valoração ambiental são uma ferramenta para mostrar o custo que a degradação gera. Elas atribuem um valor monetário aos serviços prestados pelos ecossistemas. Explicitar esses custos para o resto da economia pode incentivar a conservar os recursos naturais ou a usá-los de maneiras que sejam sustentáveis.

Da valoração ambiental surge o conceito de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), definido como uma transação voluntária, na qual um serviço ambiental bem definido ou um uso da terra que possa assegurar este serviço é adquirido por um comprador de um provedor, sob a condição de que o provedor garanta a provisão deste serviço.

Entre as modalidades de PSA estão o mercado de carbono, o ICMS Ecológico, o REDD e os projetos de proteção de recursos hídricos.

Hoje, a questão do pagamento por serviços ambientais é discutida como forma não apenas proteger ecossistemas, mas também de criar alternativas econômicas para melhorar a renda e a qualidade de vida de povos que vivem na floresta e dela dependem para sobreviver.

Fonte: O Eco

O que são os Comitês de Bacias Hidrográficas




A lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, além de definir a Política Nacional de Recursos Hídricos – como que tem, entre outras obrigações, gerir de forma racional e sustentável a água em todo o país –, também instituiu o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Este sistema busca coordenar a gestão integrada das águas, arbitrar os conflitos relacionados com os recursos hídricos, implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos; além de promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Todo sistema é um conjunto de órgãos ou componentes com fim comum. Os Comitês deBacias Hidrográficas (CBHs) são um destes órgãos: fóruns em que um grupo de pessoas se reúnem para discutir sobre um interesse comum – o uso d'água em determinada bacia hidrográfica. Dada a diversidade de interesses em relação ao uso da água, a distribuição desigual e o uso inadequado, há conflitos e riscos à garantia desse recurso para as gerações presentes e futuras. Os Comitês surgem como uma forma de reverter esse quadro, ao permitirem a conciliação dos diferentes interesses e a construção coletiva das soluções.

Cada bacia conta com seu Comitê que é a base da gestão participativa e integrada da água. A sua composição contribui para que todos os setores da sociedade com interesse sobre a água na bacia tenham representação e poder de decisão sobre sua gestão: estão ali representantes do Poder Público (das esferas municipal e estadual), da sociedade civil (ONGs, universidades, associações) e de usuários de água. Existem comitês federais e comitês de bacias de rios estaduais, definidos por sistemas e leis específicas.

Cada CBH tem seu próprio estatuto, no qual são definidas as regras e procedimentos para realização das assembleias deliberativas, formas de participação, eleição e competências. No entanto, todos têm as mesmas atribuições, definidas pela Política Nacional de Recursos Hídricos:

(1) de natureza deliberativa (decisória): arbitrar em primeira instância administrativa os conflitos pelo uso da água; aprovar o Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica (metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade; prioridades para outorga de direito de uso de recursos hídricos; diretrizes e critérios gerais para cobrança; e condições de operação de reservatórios, visando a garantir os usos múltiplos); estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos; estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

(2) de natureza propositiva: acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da Bacia e sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas; propor os usos não outorgáveis ou de pouca expressão ao Conselho de Recursos Hídricos competente; escolher a alternativa para enquadramento dos corpos d'água e encaminhá-la aos conselhos de recursos hídricos competentes; sugerir os valores a serem cobrados pelo uso da água; propor aos conselhos de recursos hídricos a criação de áreas de restrição de uso, com vista à proteção dos recursos hídricos; propor aos conselhos de recursos hídricos as prioridades para aplicação de recursos oriundos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos do setor elétrico na bacia;

(3) de natureza consultiva: Promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades intervenientes.

Através da página Comitês de Bacias Hidrográficas da Agência Nacional de Águas – ANA, é possível obter informações sobre todos os comitês atulamente existentes, sejam eles estaduais, como o CBH do Alto Tietê, em São Paulo, ou interestaduais como o CBH do Rio São Francisco. Nesta estão presentes 504 municípios e sete Unidades da Federação Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco e Sergipe, onde vivem cerca de 16 milhões de pessoas.
 Fonte: O Eco

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Impacto do aquecimento global será 'grave e irreversível', diz ONU

Documento é o mais bem feito até agora, dizem especialistas. A saúde será afetada, mas há como lidar, de acordo com o painel

O impacto do aquecimento global será "grave, abrangente e irreversível", segundo um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) divulgado nesta segunda-feira.

AFP
Enchentes como esta no Paquistão, ocorrida em 2010, 
ameaçarão cada vez mais a humanidade, diz ONU


Autoridades e cientistas reunidos no Japão afirmam que o documento é a avaliação mais completa já feita sobre o impacto das mudanças climáticas no planeta.

Integrantes do IPCC dizem que até agora os efeitos do aquecimento são sentidos de forma mais acentuada pela natureza, mas que haverá um impacto cada vez maior sobre a humanidade. Mudanças climáticas vão afetar a saúde, a habitação, a alimentação e a segurança da população no planeta, segundo o relatório.

O teor do documento foi alvo de intensas negociações em reuniões realizadas em Yokohama. Este é o segundo de uma série de relatórios do IPCC previstos para este ano. O texto afirma que a quantidade de provas científicas do impacto do aquecimento global dobrou desde o último relatório, lançado em 2007.

"Ninguém neste planeta ficará imune aos impactos das mudanças climáticas", disse o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri, a jornalistas nesta segunda-feira.

O secretário-geral da Associação Mundial de Meteorologia, Michel Jarraud, disse que se no passado as pessoas estavam destruindo o planeta por ignorância, agora já não existe mais esta "desculpa".


Enchentes e calor

O relatório foi baseado em mais de 12 mil estudos publicados em revistas científicas. Jarraud disse que o texto é "a mais sólida evidência que se pode ter em qualquer disciplina científica".



O prefeito Michael Bloomberg anunciou um plano ambicioso que beneficia bastante o sul de Manhattan (foto). Foto: Getty Images
1/10

Nos próximos 20 a 30 anos, sistemas como o mar do Ártico estão ameaçados pelo aumento da temperatura em 2 graus Celsius. O ecossistema dos corais também pode ser prejudicado pela acidificação dos oceanos.

Na terra, animais, plantas e outras espécies vão começar a "se deslocar" para pontos mais altos, ou em direção aos polos. Um ponto específico levantado pelo relatório é a insegurança alimentar. Algumas previsões indicam perdas de mais de 25% nas colheitas de milho, arroz e trigo até 2050. Enquanto isso, a demanda por alimentos vai continuar aumentando com o crescimento da população, que pode atingir nove bilhões de pessoas até 2050.

"Na medida em que avançamos [as previsões] no futuro, os riscos só aumentam, e isso acontecerá com as pessoas, com as colheitas e com a disponibilidade de água", disse Neil Adger, da universidade britânica de Exeter – outro cientista que assina o relatório.

Enchentes e ondas de calor estarão entre os principais fatores causadores de mortes de pessoas. Trabalhadores que atuam ao ar livre – como operários da construção civil e fazendeiros – estarão entre os que mais sofrerão. Há também riscos de grandes movimentos migratórios relacionados ao clima, além de conflitos armados.

Quem paga?

Em lugares como a África, as pessoas estarão particularmente vulneráveis. Muitos que deixaram a pobreza nos últimos anos podem voltar a ter condições de vida miseráveis. Mas oprofessor Saleemul Huq, outro coautor do relatório, disse que os países ricos não estarão imunes.

"Os ricos terão que se preparar para as mudanças climáticas. Estamos vendo isso agora na Grã-Bretanha, com as enchentes de poucos meses atrás, as tempestades nos Estados Unidos e a seca no Estado da Califórnia", disse Huq.

"Estes eventos são multibilionários, que precisam ser pagos pelos ricos, e existe um limite no que eles podem pagar."

Outro coautor, Chris Field, apontou que existem alguns lados positivos do relatório. Segundo ele, o mundo tem condições de administrar os riscos previstos no documento.

"Aquecimento global é algo muito importante, mas nós temos muitas ferramentas para lidar de forma eficiente com isso. Só é preciso lidar de forma inteligente com isso", diz Field.

Mas um dos problemas que ainda não tem resposta é: quem pagará a conta?

"Não cabe ao IPCC definir isso", disse José Marengo, cientista brasileiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que participou das negociações em Yokohama.

"O relatório fornece a base científica para dizer que aqui está a conta, alguém precisa pagar, e com essas bases científicas é relativamente mais fácil ir às negociações da UNFCCC [Convenção Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas] e começar a costurar acordos sobre quem pagará pela adaptação [do planeta]."


Fonte:

Controle de mudanças climáticas depende da redução do consumo

Atualmente, há um enorme consenso científico e uma crescente percepção popular de que as mudanças climáticas globais estão entre nós, afetando a temperatura de nosso planeta, aumentando o nível do mar, intensificando a ocorrência de eventos climáticos extremos e "endoidando" nosso clima.

COOPERAÇÃO

Teremos que construir organismos multilaterais para administrar esta que é maior crise que nosso planeta já passou

Toda semana vemos nos jornais estudos cada vez mais contundentes dos fortes impactos socioeconômicos das mudanças climáticas. Os governos encontram-se a cada ano, desde o início da década de 1990, e nada acontece. Nenhum acordo global de redução de emissões foi assinado, vide as COPs (conferências sobre o clima) de Copenhagen, Durban ou mesmo a Rio+20. Por quê?

Bem, começamos por observar que, na longa história da humanidade, nunca tivemos um problema dessa abrangência. Até mesmo uma tribo remota de índios isolados na Amazônia, que nunca teve contato com o homem branco, vai ser afetada diretamente. Um esquimó vivendo na Groenlândia vai ser afetado.

Precisamos mudar toda a cadeia de produção e consumo de energia que move nossa sociedade. Isso não é tarefa fácil, e nem será resolvida em 5 ou 10 anos. Mas quanto antes iniciarmos esta tarefa, melhor para todos.

Já há um consenso de que nosso modo de consumo não é sustentável nem a curto prazo. Quando cada um dos 7 bilhões de habitantes em nosso planeta tiver seu carro, geladeira, TV e outros bens de consumo, estaremos todos fritos. 

E os países desenvolvidos, que têm privilégios no uso dos recursos naturais do planeta, não vão querer "baixar" seu nível de vida para que os bilhões que têm fome e não têm acesso à energia e à água possam ter uma vida minimamente digna. Este é o verdadeiro conflito global que as mudanças climáticas estão nos colocando.

Como resolver este conflito, sem que haja um sistema de governança global em funcionamento? A ONU não tem poder nem meios para atuar nesta questão.

Alternativas

NOVOS HÁBITOS

O maior impasse é a redução do consumo de modo geral, pois isso vai contra o motor atual das economias de todos os países

Teremos que construir organismos multilaterais para administrar esta que é maior crise que nosso planeta já passou. A perspectiva de aumento médio de temperatura de 2 a 5 graus, com intensificação de secas, enchentes, e destruição dos ecossistemas, como os conhecemos, é algo que nos escapa à percepção.

A possibilidade de ficar vulnerável pela menor oferta de energia é algo que os políticos não querem sequer imaginar. Mas, claramente, não temos escolha. Ou fazemos, ou fazemos. Temos que usar os recursos naturais do planeta de maneira muito mais inteligente que usamos hoje.

Temos que aumentar em muito a eficiência no uso da energia. É possível? Sim, sem dúvida. Já existe tecnologia para isso em larga escala. Mas a força econômica e política da indústria do combustível fóssil é muito grande, em todos os países, e seus lucros se baseiam na extração, no processamento e na venda de combustíveis fósseis.

Há alternativas em escala menor, como a energia eólica e solar, além dos biocombustíveis de última geração. Mas a maior questão é a redução do consumo de modo geral, pois isso vai contra o motor atual das economias de todos os países. Dá para fazer diferente? Sim, mas, para isso, temos que mudar componentes importantes da estrutura da sociedade global, inclusive sua governança.

ESCASSEZ

Seremos 9 ou 10 bilhões de pessoas em um futuro próximo; ou usamos os recursos naturais de modo mais inteligente, ou o barco afunda

A questão de que habitamos um planeta comum, com recursos naturais finitos, está ficando cada vez mais clara. Podemos ter automóveis menores, mais eficientes e leves? Sim, sem dúvida. Podemos trocar de celular a cada 5 ou 7 anos? Sim, sem dúvida. Podemos ter hábitos alimentares satisfatórios e com menor uso de escassos recursos naturais? Sim, sem dúvida.

Temos outra alternativa a não ser seguir este novo caminho? Não, não temos. Seremos 9 ou 10 bilhões de pessoas em um futuro próximo, cada uma precisando satisfazer suas necessidades básicas. Ou usamos os recursos naturais de modo mais inteligente, ou claramente o barco afunda.

Temos que ter um sistema de comando também inteligente que mude a direção do consumo, das emissões e da maneira de usar nossos recursos naturais. Isso é urgente, pois não temos muito tempo. As mudanças climáticas já estão fazendo um senhor estrago, que é uma pequena amostra do que virá nas próximas décadas. Vamos mudar? Sim, pois não temos outro caminho. Como disse, ou mudamos, ou mudamos.

Fonte:
Paulo Artaxo
Especial para o UOL

Poluição da Água

Poluição ambiental, poluição industrial, poluição das águas, poluição dos rios, contaminação da água, Aqüífero Guarani

A água é um bem precioso e cada vez mais tema de debates no mundo todo. O uso irracional e a poluição de fontes importantes (rios e lagos), podem ocasionar a falta de água doce muito em breve, caso nenhuma providência seja tomada.

Falta de água 

Este milênio que está começando, apresenta o grande desafio de evitar a falta de água. Um estudo recente da revista Science (julho de 2000) mostrou que aproximadamente 2 bilhões de habitantes enfrentam a falta de água no mundo. Em breve poderá faltar água para irrigação em diversos países, principalmente nos mais pobres. Os continentes mais atingidos pela falta de água são: África, Ásia Central e o Oriente Médio. Entre os anos de 1990 e 1995, a necessidade por água doce aumentou cerca de duas vezes mais que a população mundial. Isso ocorreu provocado pelo altoconsumo de água em atividades industriais e zonas agrícolas. Infelizmente, apenas 2,5% da água do planeta Terra são de água doce, sendo que apenas 0,08% está em regiões acessíveis ao ser humano.

Causas da poluição das águas do planeta 

As principais causas de deteriorização dos rios, lagos e dos oceanos são: poluição e contaminação por poluentes e esgotos. O ser humano tem causado todo este prejuízo à natureza, através dos lixos, esgotos, dejetos químicos industriais e mineração sem controle.

Em função destes problemas, os governos preocupados, tem incentivado a exploração de aqüíferos (grandes reservas de água doce subterrâneas). Na América do Sul, temos o Aqüífero Guarani, um dos maiores do mundo e ainda pouco utilizado.Grande parte das águas deste aqüífero situa-se em subsolo brasileiro.

Problemas gerados pela poluição das águas 

Estudos da Comissão Mundial de Água e de outros organismos internacionais demonstram que cerca de 3 bilhões de habitantes em nosso planeta estão vivendo sem o mínimo necessário de condições sanitárias.Um milhão não tem acesso à água potável. Em virtude desses graves problemas, espalham-se diversas doenças como diarréia, esquistossomose, hepatite e febre tifóide, que matam mais de 5 milhões de seres humanos por ano, sendo que um número maior de doentes sobrecarregam os precários sistemas de saúde destes países.

Soluções 

Com o objetivo de buscar soluções para os problemas dos recursos hídricos da Terra, foi realizado no Japão, em março de 2003, o III Fórum Mundial de Água. Políticos, estudiosos e autoridades do mundo todo aprovaram medidas e mecanismos de preservação dos recursos hídricos. Estes documentos reafirmam que a água doce é extremamente importante para a vida e saúde das pessoas e defende que, para que ela não falte no século XXI, alguns desafios devem ser urgentemente superados: o atendimento das necessidades básicas da população, a garantia do abastecimento de alimentos, a proteção dos ecossistemas e mananciais, a administração de riscos, a valorização da água, a divisão dos recursos hídricos e a eficiente administração dos recursos hídricos.

Embora muitas soluções sejam buscadas em esferas governamentais e em congressos mundiais, no cotidiano todos podem colaborar para que a água doce não falte. A economia e o uso racional da água deve estar presente nas atitudes diárias de cada cidadão. A pessoa consciente deve economizar, pois o desperdício de água doce pode trazer drásticas conseqüências num futuro pouco distante.

Dicas de economia de água: Feche bem as torneiras, regule a descarga do banheiro, tome banhos curtos, não gaste água lavando carro ou calçadas, reutilize a água para diversas atividades, não jogue lixo em rios e lagos, respeite as regiões de mananciais.

Dicas para ajudar a diminuir a poluição das águas: não jogar lixos em rios, praias, lagos, etc. Não descartar óleo de fritura na rede de esgoto. Não utilizar agrotóxicos e defensivos agrícolas em áreas próximas à fontes de água. Não lançar esgoto doméstico em córregos. Não jogar produtos químicos, combustíveis ou detergentes nas águas.

Fonte: Sua Pesquisa