quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Curiosidade do dia!

Debaixo deste angu tem carne

Descubra a história por debaixo desta expressão.


A expressão é usada quando se desconfia que algo está

sendo escondido. Sua origem vem do Brasil colonial,

quando se costumava alimentar os escravos com angu,

massa barata feita de farinha de milho, mandioca ou arroz.

Quando podiam, as cozinheiras escondiam pedaços de

carne sob o angu, para prazer dos escravos e desprazer dos

maus senhores.


Fonte: Almanaque Cultural

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Pernambuco, terra de desenvolvimento!



Nossa gente entre pontos e vírgulas

Ao longo de suas páginas, grandes autores como João 
Cabral de Melo Neto, Mário de Andrade e Machado de 
Assis nos ajudaram a compreender a alma nacional. 
E povoaram as prateleiras da nossa imaginação com 
personagens inesquecíveis.


Eles são muitos. Surgem a toda a hora e em todos os cantos. Mas não são tantos que vingam, ganhando sobrevida depois que seus autores abandonaram seus instrumentos de ofício. Ou, mais difícil ainda, após seus leitores fecharem de vez as páginas dos livros em que habitam. Poucos mesmo são aqueles que, passados anos, décadas, séculos, continuam vivos na imaginação de quem leu, como uma lembrança de lágrimas, boas risadas ou de um sentimento de indignação.

Entre esses personagens inesquecíveis há gente de todos os tipos. Cada um tem o seu preferido. Neste especial, lembramos de alguns deles, numa lista com promessa de ampliação em futuras edições. Menino Maluquinho, por exemplo, lançado em livro por Ziraldo em 1980, simboliza o que seria uma infância vivida em sua plenitude, cheia de alegrias, mas também de contrariedades. Menos feliz foi a vida adulta de Policarpo Quaresma, personagem criado por Lima Barreto para Triste Fim de Policarpo Quaresma, de 1915.

A existência também não foi sinônimo de felicidade para Brás Cubas. O autor-defunto de Memórias Póstumas de Brás Cubas, saído da genialidade de Machado de Assis em 1881, morreu sem conquistar o que tanto desejava. Ao menos teve a oportunidade de deixar suas memórias para a eternidade.

A sensualidade rústica da mulher do Agreste é retratada por Jorge Amado em Gabriela Cravo e Canela, de 1958. A mesma beleza natural que possui a protagonista deIracema, romance escrito por José de Alencar em 1865, considerado um dos mais belos do gênero. Entre essas mulheres brilhantes, democraticamente há espaço também para um machista de primeira: O Analista de Bagé, engendrado por Luis Fernando Verissimo a partir de 1981, e que só virou livro depois de seu sucesso nas páginas dos jornais. E também para uma dupla de divertidos trambiqueiros resgatados do folclore nordestino por Ariano Suassuna, em Auto da Compadecida, de 1955. Além do impagável Macunaíma, nosso herói sem nenhum caráter, lançado ao mundo por Mário de Andrade em 1928.

Histórias de sofrimento do homem nordestino foram ricamente tratadas em nossas páginas, como no caso de Severino, personagem condutor de Morte e Vida Severina, criado por João Cabral de Melo Neto em 1955. Nesse turbilhão de personagens, há espaço até para animais se tornarem célebres. Quem é que, tendo penetrado no universo lancinante de Graciliano Ramos em Vidas Secas, de 1938, é capaz de esquecer-se da cadelinha Baleia?

Assim, de personagens singelos, sedutores, comoventes, debochados e divertidos, se fez e faz a literatura brasileira. Vez por outra eles não precisam sequer ser desalojados das prateleiras: saltam dos livros para a imaginação. E, como vemos a seguir, das linhas que os abrigam para este Almanaque.


Policarpo queria abolir a língua portuguesa
Para ele, o Brasil era o primeiro em tudo. Não havia país mais formoso, povo mais amável e cultura mais interessante que a nossa. A fascinação de Policarpo Quaresma pelas coisas nacionais era tanta que chegou a enviar ao Congresso um projeto para institucionalizar o tupi-guarani como a língua nacional – o português, afinal, é coisa de europeu.

No começo do século passado, violão era considerado coisa de vagabundo. Não pegava bem ser empunhado por distintos funcionários públicos, como era o caso de Policarpo. Mas ele acreditava que se tratava do instrumento que mais bem registrava a alma nacional. Aprendeu a tocá-lo com o seresteiro Ricardo Coração dos Outros, personagem inspirado em Catulo da Paixão Cearense. Dá para imaginar sua decepção, portanto, ao constatar que grande parte das nossas canções e cantigas vinha do estrangeiro.

Seu patriotismo era tão exacerbado que desdenhava da extensão real do rio Nilo. Tudo para apregoar que o Amazonas era o maior do mundo. Em 2007, quem diria, pesquisadores indicaram que o Amazonas pode realmente ser o mais extenso do planeta. Policarpo pode ter tido um triste fim, mas sabia das coisas.


Dupla escapava da miséria na base da malandragem
João Grilo e Chicó formavam uma dupla inseparável. O mais astuto era João. A esperteza era a sua única arma contra a vida miserável em que se encontrava. E a usava à exaustão. Conseguia ludibriar do patrão ao coronel, do padre ao cangaceiro. Nem que fosse por um pedaço de pão.

Já Chicó era dado a contar histórias fantásticas – que poderiam soar como lorotas. Já disse que percorreu vários estados nordestinos em cima de um cavalo benzido, que tinha um pirarucu de estimação e que encontrou com Padre Cícero no céu. Quando o interlocutor exigia detalhes de suas histórias fantasiosas, saía pela tangente: “Não sei, só sei que foi assim”.


Um menino com macaquinhos no sótão
Ele não tem nome. E nem precisa. É apenas conhecido como Menino Maluquinho, um arteiro de marca maior. É o que basta para um garoto que tem o olho maior que a barriga, vento nos pés, pernas que podem abraçar o mundo e macaquinhos no sótão.

Sempre com uma panela na cabeça, ele vive uma infância repleta de alegrias. É o melhor goleiro do bairro e tem mais de 10 namoradas. Entretanto, nutre uma queda especial pela companheira de aventuras Julietinha, e chora escondido quando tem tristezas.


Gabriela seduziu Nacib e uma multidão
Ela tinha cheiro de cravo e cor de canela. Essa sensual mistura encantou o árabe Nacib. Gabriela vinha do Agreste e migrou para Ilhéus em busca de uma vida melhor. Começou a trabalhar na cozinha do bar de Nacib, que ficou completamente encantado com a sua beleza. Mas não só ele. A cada, dia o estabelecimento recebia mais clientes. A cidade toda estava fascinada com a beleza de Gabriela.

Enciumado, o árabe resolveu que o melhor era se casar com ela. Mas percebia que cada vez se tornava mais difícil subjugar seu espírito livre. Após flagrá-la com outro homem, resolveu cancelar o casamento. Mas nunca conseguiu esquecer-se da cor e do sabor da moça.


Severino partiu em busca de outro destino
Ele era mais um Severino do sertão de Pernambuco. Igual a ele, outros também tinham a cabeça grande, “que a custo é que se equilibra”, a barriga dilatada, contrastando com as pernas finas. E também o sangue com “pouca tinta”. Igual a ele tinham também o nome. Foi por isso que deram de chamá-lo Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba.

Severino lutava para escapar da morte comum entre os outros de mesmo nome: “de velhice antes dos 30, de emboscada antes dos 20, de fome um pouco por dia”. Plantar, que era o único que lhe restava, era tarefa inglória. Até tentou despertar a terra para o plantio, “arrancar algum roçado da cinza”. Mas não podia. Por isso, juntou sua sina a de tantos outros Severinos, deixando sua terra em busca de outros destinos.


Por amor, Iracema lutou contra seu próprio povo
Ela viveu numa região onde hoje está o Ceará. Era uma belíssima índia tabajara, com lábios de mel e cabelos mais negros que a asa da graúna. Mas tanta beleza não deveria ser cortejada. O pai de Iracema, pajé do grupo, ordenou-lhe manter-se virgem, pois guardaria segredos que seriam perdidos caso não se mantivesse intocada. Porém a tabajara não pôde conter seu amor. Apaixonou-se por um português com olhos de um “azul triste das águas profundas”. Depois de abandonar o próprio povo, deu à luz um menino, cujo nome carregava os sentimentos da mãe: Moacir, “filho do meu sofrimento, da minha dor”.


Baleia morreu sonhando com Nordeste verdejante
Os dois filhos do casal de retirantes Fabiano e sinhá Vitória não tinham nome. Eram chamados apenas de “menino mais novo” e “menino mais velho”. Mas a cadela da família tinha: Baleia. A cachorrinha era dona de sentimentos quase humanos. Penou muito ao lado dos sertanejos para fugir da seca que assolava o Nordeste. Certo dia, adoeceu. Fabiano não viu outra solução a não ser sacrifi cá-la.

Baleia aguardou a morte sonhando que acordaria num mundo cheio de preás. E que lamberia a mão de Fabiano. E também desejou rolar com as crianças num chiqueiro enorme. Segundos antes da morte, imaginou o Nordeste como um campo verdejante, cheio de árvores e bichos.


Defunto- autor refez suas memórias direto do além
Brás Cubas não está mais entre nós. Mas, onde estivesse, resolveu contar suas memórias postumamente. Nascido em uma típica família da elite carioca no começo do século 19, não casou nem deixou filhos: “Não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”, registrou, com certo amargor e ironia. Aliás, eram essas as características mais presentes no sujeito. Tanto que dedicou seu livro ao verme que primeiro roesse sua fria carne.

O vaidoso personagem passou a vida procurando fórmulas para deixar seu nome para a posteridade. Com afinco, tentou até criar um remédio destinado a aliviar a melancolia da humanidade, batizado de emplasto Brás Cubas. Acreditava que o invento lhe traria a glória entre os homens. Mas o máximo que conseguiu foi contrair pneumonia ao sair de casa para patentear a criação.

O livro do nosso defunto-autor fez sucesso mundo afora. O cineasta norteamericano Woody Allen chegou a declarar que Memórias Póstumas está entre os cinco livros que mais tiveram impacto sobre sua vida e obra. “É tão moderno e prazeroso. É uma obra muito, muito original.” Onde estiver, Brás Cubas deve ter ficado muito envaidecido.


Analista tratava pacientes a base de pauladas
"Mais ortodoxo que pomada Minâncora ou que caixa de Maizena”, o analista de  Bagé declarava seguir a linha freudiana, mas costumava apresentar soluções bastante inusitadas a seus pacientes. Misturando técnicas científicas com a sabedoria popular dos pampas, os recebia de bombacha e portando um chimarrão – “para clarear a urina e as ideias”.

Um dos tratamentos mais utilizados era o que singelamente chamava de “joelhaço”. O paciente chegava ao consultório triste da vida, apresentando suas dores subjetivas. Recebia então uma violenta pancada no joelho. Segundo o analista, o golpe era capaz de produzir uma dor tão intensa que logo o sujeito esquecia as “dores menores”.


De tão preguiçoso, nosso herói tornou-se constelação
"Ai, que preguiça”. Essa é a frase característica de Macunaíma, um herói sem nenhum caráter. Nem todos se atentam que a frase mostra que essa figurinha é duplamente preguiçosa. “Aique”, num dos dialetos indígenas, significa exatamente “preguiça”.

O sujeito nasceu numa tribo amazônica, no fundo do mato-virgem. Era “preto retinto e filho do medo da noite”. E de uma preguiça e insolência que impressionavam. Macunaíma era mentiroso, traidor, boca suja e praticante de toda a sorte de safadezas. Depois de muito aprontar, um feiticeiro decidiu transformá-lo na constelação de Ursa Maior. Até nessa hora permaneceu inútil. Foi viver no campo vasto do céu, “sem dar calor ou vida a ninguém”.

Escrito por Bruno Hoffmann