VERSOS E POESIAS

Eu vou dizer
O que tem em minha terra
Eu vou cantar
O canto da minha terra

Da planta que nasce em terra quente
Da cigarra que canta na aroeira
Do riacho seco que gera o caminho do Xique Xique
Mandacaru e Catingueira

Do vento que sopra constantemente
Os pássaros que voam de arribação
Da boiada que pasta inutilmente
Sem comprar o verde de vegetação

Da Maria do rosto de romã
Da cantoria em noites de luar
Dos pingos de orvalho na manhã
Da pipóia da gente se embalar

Do cigarro de palha vez em quando
Do aboio ecoando pela serra
Da viola amiga que me acompanha
Vou cantando o canto da minha terra

Da Maria do rosto de romã
Da cantoria em noites de luar
Dos pingos de orvalho na manhã
Da pipóia da gente se embalar
Do cigarro de palha vez em quando
Do aboio ecoando pela serra
Da viola amiga que me acompanha
Vou cantando o canto da minha terra

Canto da Terra - Flor Du Xique Xique
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Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um menino peralta. 
Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando eu era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. 
Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio. 
Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto.
Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. 
Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação.
Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. 
Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. 
Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. 
Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.

Manoel de Barros

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"Quando o grito de dor do nordestino.
unir-se á voz geral do desencanto
esse eco de repetente faz um canto
e o canto de repente faz um hino.

É puro como um sonho de menino
será cantado aqui e em todo canto
com simbolo, estandarte, como manto
de um povo que edifica seus destinos.

E quando esse hino pleno de ideal
canção do povo em marcha triunfal
fór lançado ao sabor do seu destino.

ai, se saberá, sem ter espanto
que o eco de repente faz um canto
e o canto de repente faz um hino."

Nosso poeta R.C.L.

Fonte: Blog Inspirações Telúricas

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TREM DE ALAGOAS
Ascenso Ferreira

O sino bate,
o condutor apita o apito,
Solta o trem de ferro um grito,
põe-se logo a caminhar…

— Vou danado pra Catende, 
vou danado pra Catende, 
vou danado pra Catende 
com vontade de chegar...

Mergulham mocambos,
nos mangues molhados,
moleques, mulatos,
vêm vê-lo passar.

— Adeus! 
— Adeus!

Mangueiras, coqueiros,
cajueiros em flor,
cajueiros com frutos
já bons de chupar...

— Adeus morena do cabelo cacheado!

Mangabas maduras,
mamões amarelos,
mamões amarelos,
que amostram molengos
as mamas macias
pra a gente mamar

— Vou danado pra Catende,
vou danado pra Catende, 
vou danado pra Catende 
com vontade de chegar... 

Na boca da mata
há furnas incríveis
que em coisas terríveis
nos fazem pensar:

— Ali dorme o Pai-da-Mata!
— Ali é a casa das caiporas!

— Vou danado pra Catende, 
vou danado pra Catende 
vou danado pra Catende 
com vontade de chegar... 

Meu Deus! Já deixamos
a praia tão longe…
No entanto avistamos
bem perto outro mar... 

Danou-se! Se move,
se arqueia, faz onda...
Que nada! É um partido
já bom de cortar...

— Vou danado pra Catende, 
vou danado pra Catende 
vou danado pra Catende 
com vontade de chegar...

Cana caiana,
cana roxa,
cana fita,
cada qual a mais bonita,
todas boas de chupar... 

— Adeus morena do cabelo cacheado! 

— Ali dorme o Pai-da-Mata! 
— Ali é a casa das caiporas!

— Vou danado pra Catende, 
vou danado pra Catende 
vou danado pra Catende 
com vontade de chegar...

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Através do quadro iluminado da janela

Olho as grandes nuvens que chegaram do Oriente

E me lembro dos homens que seriam meus amigos

Se eu tivesse nascido em Cingapura.



E aqueles que estiveram comigo nas horas concluídas

Ainda impressionam o ar

— Todos eles perderam-se no mar.



Agora, na praia deserta estou sozinho

— Caminho

Com os pés descalços na areia.



Nesta tarde morta o perfume das almas

Invade as enseadas, estende-se sobre os rios, paira sobre as colinas

— A Natureza assume a precária presença de um sonho;

Um trem corre sereno na planície dos homens ausentes;

Do fundo de minha memória sobe um canto de guitarras confusas;

Sinto correr de minha boca um rio de sombra,

A sombra contínua e suave da Noite.


(Joaquim Cardoso(Poeta Pernambucano)‏

Um comentário:

  1. A Bandeira Nordestina

    A bandeira nordestina
    É uma planta iluminada
    É qualquer raiz plantada
    Mostrando o caule maduro

    É quando o sol varre o escuro
    Com luz e sombra no chão
    É quando germina o grão
    É quando esbarra o machado
    É quando o tronco hasteado
    É sombra pra o polegar
    É sombra pro fura-bolo
    É sombra pro seu-vizinho
    É sombra para o mindinho
    É sombra prum passarinho
    É sombra prum meninote
    É sombra prum rapazote
    É sombra prum cidadão
    É sombra para um terreiro
    É sombra pro povo inteiro
    Do litoral ao sertão.

    Essa bandeira que eu falo
    Tem cores de poesia
    Tem verde-folha-voada
    Amarelo jaca-aberta…

    Em tudo que é vegetal
    Tem bandeira desfraldada
    No duro da baraúna
    No forte da aroeira
    No panejar buliçoso
    Das frondosas bananeiras
    Nas bandeirolas dos coentros
    E na marca sertaneja:
    O rijo e forte umbuzeiro.

    Jessier Quirino

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