segunda-feira, 21 de maio de 2012

Os efeitos de uma vitória contestada

Confronto entre os petistas na prévia rachou o partido e traz risco para os planos da sigla neste ano.


Para os dois pré-candidatos e para o PT, o resultado das prévias de ontem foi o pior que podia ter acontecido. Quem ganhou não pode levar; e quem perdeu terá de lutar para a realização de nova disputa, já carregando nas costas uma derrota. Para o partido resta ainda o desgaste de ter visto a disputa sair do controle, fazer escala nos tribunais e agora ter que ser resolvida pela executiva nacional.

O clima do dia seguinte, que deveria ser o do vencedor já buscando a unidade impulsionado pela vitória, será o do acirramento da briga. Nenhuma mão estendida. Antes da entrevista do prefeito João da Costa sobre o resultado (em que ganhou com diferença de menos de 600 votos), o governador Eduardo Campos anunciou logo: vai esperar a decisão da executiva nacional do PT antes de declarar apoio ao candidato.

Na coletiva o prefeito disse que os filiados haviam escolhido “o melhor para o PT”. Mas da parte do outro pré-candidato, Maurício Rands, em vez de reconhecimento da derrota o que houve foi uma escalada de críticas. “Ele ganhou com votos piratas”, disse Rands, numa alusão a votos de petistas que não estariam com a filiação regularizada para votar. O total de filiados nessa situação, na conta de Rands, seria de 12 mil. A polêmica sobre quem estaria em condições de votar permeou os dois meses da campanha dos pré-candidatos. O partido não conseguiu solucionar a questão. Na véspera das prévias, a executiva nacional decidiu que os eleitores com filiação contestada votariam numa lista à parte, manual. O caso foi à Justiça que determinou que todos votariam, nas mesmas urnas eletrônicas.

Dê-se ao PT o crédito de ter trazido as prévias para a política brasileira, como prática regular. Em março passado José Serra foi escolhido candidato tucano à prefeitura de São Paulo mediante prévias, derrotando dois outros postulantes. Em Curitiba, pelo mesmo processo, o PT decidiu que em vez de lançar candidato próprio à prefeitura apoiaria Gustavo Fruet (PDT) - aquele mesmo que na polêmica do chamado Mensalão, notabilizou-se como um dos maiores críticos de Lula e do PT.

As prévias não são o fim do mundo. Mas é obrigação de quem as organiza fazê-las com eficiência para que, finda a disputa, se comece imediatamente a tapar as arestas que elas deixam. O PT não conseguiu isso no Recife. Aqui o resultado final será esticado pelo menos por mais uma semana - a decisão da executiva nacional está prevista para o próximo dia 28. Qualquer posição que venha a tomar implicará desgastes para os dois pré-candidatos. Digamos que valide a eleição - nesse caso estará validando os votos que Rands chamou de “piratas” e o processo que Humberto Costa disse tê-lo “indignado”. Digamos que a executiva anule a eleição. Estará afrontando o prefeito e anulando uma eleição cujo resultado ele considerou “o melhor para o PT”.

O desgaste do episódio perdurará até a eleição para prefeito, em outubro? Só mais tarde saberemos. O que se sabe, nesse instante, é que no resultado das prévias de ontem todos saíram desgastados.

Radiogravia dos acertos e desacertos do PT ao logo de sua história no Recife

1985
Na primeira eleição direta pós-regime militar, o PT lançou Bruno Maranhão como candidato a prefeito do Recife. Ficou em 6º lugar, conseguindo apenas 4.711 votos (1,17%). Não teve eleição para vereador neste pleito.

1986
O PT não lançou candidato ao governo do estado, nem ao Senado. O partido apostou em 10 candidatos para deputado federal e 18 para a Assembleia Legislativa, mas não elegeu ninguém. João Paulo, Paulo Rubem e Humberto Costa concorreram à Assembleia

1988
O candidato do PT à Prefeitura do Recife foi Humberto Costa. Ficou em quarto lugar, com 37.795 votos (7,52%). João Paulo foi eleito como o 1º vereador do PT, com 2.723 votos. O prefeito eleito foi Joaquim Francisco (PFL)

1990
Paulo Rubem disputou a eleição para o governo do estado, mas ficou em 3º lugar, com apenas 64.241 votos. O partido concorreu ao Senado com José Ailton, ficando também em 3º. Neste mesmo ano, o PT elegeu dois deputados estaduais: Humberto Costa e João Paulo

1992
Humberto Costa mais uma vez entrou na disputa municipal,
ficando em 2º lugar, com 95.937 votos (18,89%). O PT elegeu três vereadores, a maior bancada do partido desde então: Paulo Rubem, Sérgio Leite e Fernando Ferro

2010
O PT não lançou candidato ao governo (apoiou Eduardo Campos, que se reelegeu).   Humberto Costa elegeu-se senador, com 3.059.818 votos. É o primeiro senador petista em PE. O partido fez  quatro deputados federais e cinco estaduais

2008
Depois de uma disputa interna no PT, João Paulo lançou João da Costa na sua sucessão para a PCR e ele ganhou com 432.707 votos (51,5%). Em 2009, os dois romperam politicamente

2006
Humberto Costa saiu candidato ao governo, mas não conseguiu ir ao 2º turno. O partido elegeu cinco federais e cinco estaduais. Rands, mais uma vez, foi o mais bem votado do PT para a Câmara com 149.206 votos, enquanto João da Costa estreia como deputado estadual, sendo o campeão de votos no PT, com 65.240

2004
João Paulo concorreu à reeleição  num cenário bastante adverso, contra três candidatos fortes, mas venceu no primeiro turno, com 458.846 votos (60,27%).

2002
Humberto Costa disputou o governo do estado e Dilson Peixoto foi lançado ao Senado. Ambos perderam, mas o PT elegeu uma bancada de três deputados federais e cinco estaduai.  Rands elegeu-se pela primeira vez neste pleito, como deputado federal, sendo o mais votado da legenda, com 107.741 votos

2000
João Paulo é lançado candidato à Prefeitura contra Roberto Magalhães (PFL).  Chegou ao 2º turno e venceu as eleições, com 382.988 votos (50,38%). A diferença pró-PT foi de apenas 5.835 votos

1998
O PT não teve candidato próprio ao governo do estado, apoiando Miguel Arraes. Humberto Costa disputou o Senado. Não conseguiu se eleger. Neste mesmo ano, o PT elegeu um deputado federal, Fernando Ferro, e três estaduais, João Paulo, Sérgio Leite e Paulo Rubem

1996
O PT realizou prévias para a PCR entre Paulo Rubem, João Paulo e Humberto Costa - este saiu vitorioso, mas desistiu depois e  quem disputou foi  João Paulo. Ficou em 3º lugar, com 105.160 votos (16,87)

1994
O PT não lançou candidato ao governo nem ao Senado. Elegeu dois deputados estaduais e dois federais

Saiba mais

Os votos para cada candidato por zona eleitoral

1ª Zona (Brasília Teimosa)
João da Costa 552
Rands 605

2ª Zona (San Martin)
João da Costa - 532
Rands - 405

3ª Zona (Tejipió)
João da Costa - 641
Rands - 465

4ª Zona (Boa Vista)
João da Costa - 675
Rands - 870

5ª Zona (Caxangá)
João da Costa - 708
Rands - 540

6ª Zona (Avenida Norte)
João da Costa - 885
Rands - 792

7ª Zona (Cordeiro)
João da Costa - 394
Rands - 269

8ª Zona (Campo Grande)
João da Costa - 391
Rands - 264

9ª Zona (Arruda)
João da Costa - 755
Rands - 638

148ª Zona (Ibura)
João da Costa - 593
Rands - 528

149ª Zona (Imbiribeira)
João da Costa - 147
Rands - 102

150ª Zona (Torrões)
João da Costa - 426
Rands - 481

151 Zona (Linha do Tiro)
João da Costa - 547
Rands - 451




* Estes números são estimativas extraoficiais, até porque o PT está proibido de divulgar o resultado oficial das prévias pelo Tribunal de Justiça do Estado

Fonte: Diário de PE

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá! Seja bem vindo. Agradecemos a sua participação através de elogios, sugestões ou reclamações, queremos saber da sua opinião sobre o nosso blog! Um grande abraço.