terça-feira, 3 de abril de 2012

Semelhança ou coincidência?

Propaganda da Prefeitura do Recife lembra os comerciais da gestão Jarbas Vasconcelos, idealizados por Antonio Lavareda


Em meio à disputa interna do PT, a publicidade da Prefeitura do Recife estreou em outro ritmo neste mês, mais ágil e tipo “chiclete”. Pode ser apenas uma coincidência, mas quem vê a propaganda atual da gestão não deixa de estabelecer ligações com antigos comerciais da Era Jarbas. A mesma ênfase dada à palavra “Já”, apresentada em letras garrafais e de forma dinâmica nos clipes do ex-governador, no passado, hoje é destinada ao “Avança” de João da Costa. A novidade é que as semelhanças ficaram mais evidentes após a fusão da empresa RGA, dos publicitários Benjamin Azevedo e Renata Gusmão, com a MCI Comunicação, do sociólogo e cientista político Antônio Lavareda, dando origem à Black Ninja. 

Fontes ligadas à prefeitura garantem que Lavareda está distante da propaganda municipal, mesmo depois de virar acionista da RGA, em fevereiro. Mas a influência do guru político está cada vez mais visível no governo de João da Costa, tanto na publicidade como no discurso do gestor. A nova propaganda municipal, que termina com “a cidade avança, cuidando das pessoas”, tem toques que ligam a Lavareda, de uma forma ou de outra. 

As coincidências ficaram mais perceptíveis após o cientista político proferir uma palestra, na Faculdade Maurício de Nassau, onde sustentou que a eleição de 2012 seria marcada principalmente pelos discursos de “continuidade e parceria”. “A cidade avança, cuidando das pessoas” faz referência justamente a esses dois pontos. O slogan resgata o lema do ex-prefeito João Paulo “a melhor obra é cuidar das pessoas” e ressalta o avanço com as parcerias entre a prefeitura, os governos federal e estadual. Tudo isso muito aproximado do estilo videoclipe contemporâneo, como era nos tempos de Jarbas. 

O slogan “A cidade avança, cuidando das pessoas” teve duas fases, segundo a análise do professor de publicidade da Universidade Federal de Pernambuco, Rodrigo Stefani. A primeira, exibida antes do carnaval, tinha uma estética mais suave e mais poética, próxima do gênero documental. Já esta segunda, após a fusão da RGA e MCI, é bem parecida com a do governo Jarbas, realizada por mais de uma década por Lavareda. 

Rodrigo Stefani não entrou no mérito se a publicidade está sendo ou não feita por Lavareda. Mas ele ressaltou a diferença entre as duas fases (o antes e o depois da fusão). “A estética desse material (novo) é referente ao padrão comercial (promocional), mais contemporâneo, muito ágil e dinâmico na interseção dos temas abordados, separados pelas linhas de cortes e fusão. Esse modelo não favorece a reflexão crítica do conteúdo, uma vez que trabalha com um volume grande de informação em pouco espaço de tempo”, informou. 



Pouco tempo e risco para petistas 



Embora tenha estado à frente de três campanha eleitorais que sofreram derrotas no estado, é inegável que o cientista político Antônio Lavareda conseguiu mudar bastante a imagem de Jarbas Vasconcelos (PMDB), que passou de um político carrancudo para um homem das massas, ou melhor, uma liderança “alto astral”. É difícil prever se o mesmo pode acontecer com João da Costa, em tão pouco tempo que resta para as eleições. Mas o gestor, ao menos aparentemente, demonstra ter assimilado algumas sugestões do marqueteiro, com quem tem relações pessoais. O argumento que o prefeito mais usa para defender a própria reeleição é de que ninguém pode defender o governo melhor que ele mesmo. 

A defesa usada por João da Costa é praticamente um mantra de Lavareda, que traçou padrões da última eleição municipal em todas as capitais. O cientista político inclusive falou sobre esse tema na Faculdade Maurício de Nassau, mostrando as vantagens que os gestores têm nas eleições. Tanto por controlarem as máquinas públicas como por terem tempo de sobra na TV para apresentarem seus programas. 

Para se ter uma ideia, segundo números apresentados por Lavareda, 19 dos 20 prefeitos que disputaram a reeleição em capitais saíram vitoriosos em 2008. Só quem perdeu foi o prefeito Serafim Correa (PSB), em Manaus, porque ele se confrontava demais com Amazonino Mendes, ex-governador, ex-prefeito, “e uma pessoa profundamente ligada às classes C, D, e E”. 

De qualquer forma, os padrões observados por Lavareda são animadores até mesmo para um gestor que não conseguiu unir o próprio partido e a Frente Popular. Em conversas de bastidores com lideranças políticas locais, o marqueteiro sempre fala no voto retrospectivo, ou seja, a população avalia o desempenho do partido naquele cargo e seus antigos representantes. Nesse contexto, os únicos candidatos naturais do PT seriam João da Costa ou João Paulo. 

O nome do secretário de Governo, Maurício Rands é visto como uma solução criativa, porém de alto risco. O mais difícil será Rands fazer a defesa da gestão e explicar, ao mesmo tempo, que é o candidato do PT porque o prefeito não deu certo na política. Mas ele já parece ter o discurso pronto. Alvirrubro, Rands faz analogias com times de futebol para explicar sua pré-candidatura. “Às vezes você quer trocar um jogador, mas não quer trocar o time”. 

Fonte: Diário de PE/Política

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