quinta-feira, 26 de abril de 2012

Presença só em época eleitoral

Em ano eleitoral, elas saem do papel de coadjuvantes e se tornam protagonistas no tabuleiro das campanhas partidárias. As comunidades carentes da Região Metropolitana do Recife (RMR), sobretudo na capital, não passam despercebidas quando a intenção é a estratégia do “corpo a corpo”, ou seja, abraços, saudações e promessas de futuras melhorias na condição de vida de seus habitantes. A reportagem do Diario visitou três das cinco comunidades com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Recife e, segundo os populares ouvidos pela reportagem, a presença dos políticos só é atestada na época eleitoral, como neste ano.


Sentada na frente de seu pequeno barraco, na comunidade do Pilar, no Bairro do Recife, a pensionista Fernandina Oliveira, de 68 anos, já viu muito candidato circulando na área. “É sempre assim, quando é época da eleição, eles aparecem aqui, apertando a mão da gente”, critica. Dona Fernanda, como é conhecida, elogia, por outro lado, a presença constante do atual prefeito do Recife, João da Costa, e do vereador Jairo Brito, ambos do PT. “São os únicos que aparecem por aqui e ajudam a gente sempre”, disse se referindo às obras de reurbanização do bairro, inclusive com a construção de conjunto habitacional, com recursos na ordem de R$ 39,4 milhões.


“Eles (os políticos) fazem isso direto. Prometem empregos e melhorias. Olha só este esgoto aí… mudou algo? Dá vontade de bater a porta na cara”, reclama a também moradora do Pilar e ambulante Jaqueline Campos, de 44 anos. Na comunidade do Coque, região “imprensada” pela especulação imobiliária entre os bairros da Ilha do Leite e da Ilha do Retiro, a carência de “visitas políticas” também é sentida por populares.


Alguns moradores reclamam das condições de escolas públicas no local, além de questões de saúde. Muitos preferem não se identificar com medo de represálias. “Minha empresa tem um candidato”, diz um morador da Rua Embuguaçú. O estudante Rafael Fabrício reclama da falta de diálogo. “Não temos uma área de lazer aqui. Na praça e na Academia da Cidade, os jovens andam de skate em locais não permitidos. Ninguém escuta a gente, só tem este papo na época de eleição”.


A “classe interessada”, ou seja, os políticos, discordam da declaração dos moradores. O secretário de Governo e um dos pré-candidatos do PT à sucessão no Recife, Maurício Rands, diz que prefere ser criticado pela ação. “Se os políticos não forem às comunidades, são alvo de críticas. Se forem, também são. Então, prefiro ir para ser criticado pela ação”, destacou. Rands começou sua andança, este ano, na comunidade de Brasília Teimosa, no Recife.


Entre os oposicionistas do Recife o sentimento de visitar às bases é quase uma obrigação. “Quando eu era deputado federal, toda semana visitava cidades no interior”, argumentou o pré-candidato do PPS Raul Jungmann. O democrata Mendonça Filho, também pré-candidato na capital completa: “Eu faço isso normalmente, é uma rotina (visita as bases). Eu só não distribuo material de campanha (se referindo as denúncias contra o PT). A Constituição Federal garante o direito e ir e vir de todo cidadão”, defendeu.


Depoimentos


“A conversa é bonita na época de eleição. Mas olha esta pista aqui? Cadê os políticos? Eles pensam que a gente, por ser de baixa renda, é porco. Se eu não fizer as coisas, tiro um caminhão de barro da minha casa”.
Ivanilda Ribeiro, do Passarinho


“Aqui na comunidade não aparece ninguém para saber o que a gente quer, o que a população precisa. Estamos precisando de uma área para quem gosta de skate nas praças, mas ninguém ajuda”.
Rafael Fabrício, do Coque


“Trabalhei na última eleição para um vereador. Ele foi eleito, mas não aparece mais por aqui. Ele ainda me deve o dinheiro da campanha. Isso é comum nos bairros de periferia, eles só querem o voto da gente”.
Edvaldo da Silva, do Passarinho


“Alguns a gente nem conhece. Fazem promessas, dizem que vão dar empregos para a gente, melhorar as ruas. Mas, quando são eleitos a gente não é recebido nem por um assessor.”
Jaqueline Campos, do Pilar


“Neste ano não veio nenhum ainda. Mas daqui a pouco tá cheio (de políticos). Quando são eleitos, nem aparecem por aqui.” Gracira Farias, do Passarinho



Fonte: TÉRCIO AMARAL tercioamaral.pe@dabr.com.br

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